sexta-feira, 16 de abril de 2010

Comunicações Contraditórias

Tão recentemente quanto em 1975, a usualmente objetiva publicação Consumer Reports (Notícias Para os Consumidores) parecia indicar que esse tóxico era relativamente inócuo. Uma comunicação feita no Canadá pela Comissão LeDain (1973) dava a entender a mesma coisa. Uma comunicação do governo dos EUA, Marijuana: a Signal of Misunderstanding (Maconha: Sinal de Desentendimento), junto com outras poucas publicações similares a esta, tais como Marijuana Reconsidered (Maconha Reconsiderada), moveram algumas pessoas a afirmar que não existe evidência conclusiva de danos físicos ou de que ela intervenha nos processos físicos, mesmo quando se usem grandes doses.
Os peritos que a achavam inócua têm sido citados livremente: Dr. David H. Powelson, antigo chefe da psiquiatria da Universidade da Califórnia, em Berkeley; Dr. Harold Kalant, da Universidade de Toronto; Dr. Robert L. DuPont, que antes era do Instituto Nacional de Combate à Toxicomania, dos EUA. Houve também outros. Referências freqüentes eram feitas a eles, para mostrar que não existe base válida para a preocupação com o consumo crescente da maconha.
No entanto, por todo esse período, soaram-se avisos: A Organização Mundial de Saúde manteve suas declarações contra o consumo da maconha. Em 1972, o Dr. Olav J. Braenden, diretor do Laboratório de Entorpecentes das Nações Unidas, em Genebra, Suíça, avisou que a maconha é um tóxico perigoso. Baseou suas conclusões nas descobertas de 26 laboratórios, em várias partes do mundo.
Todavia, a idéia geral na década de 1960 e no início da década de 70 era que ainda não se sabia o suficiente para afirmar, com qualquer certeza, que a maconha fosse prejudicial. Por certo, existe grande diferença entre afirmar que ainda não se provou que algo é prejudicial e dizer que é deveras inócuo.
Há várias drogas que, em certa época, se pensava serem inofensivas, até mesmo benéficas, e que agora não são mais consideradas dessa forma. A heroína e os barbitúricos, por exemplo, foram outrora considerados uma bênção para a medicina, mas isto não se dá agora com nenhuma dessas drogas. Não se deve desperceber que se relata até mesmo que um dos mais destacados defensores da retirada da maconha do código penal, Keith Stroup, diretor executivo da Organização Nacional Para a Revogação das Leis Sobre Maconha (sigla NORML em inglês) tenha admitido: “Há muita coisa que ainda precisamos saber sobre tal tóxico.”
Mas, por que existem tais comunicações patentemente contraditórias? Por que fontes encaradas como autorizadas se colocam em lados opostos nessa controvérsia? O Dr. Andrew Malcolm, psiquiatra com mais de 20 anos de experiência no trato com dependentes de tóxicos, explica: “Parte da confusão sobre a cannabis, atualmente, se deve às experiências iniciais, muito anunciadas e amplamente aceitas — notadamente as realizadas em fins da década de 60. Estas sugeriam que a cannabis era um intoxicante relativamente brando, com poucos efeitos adversos. Todavia, não havia nenhum método disponível para se medir a concentração de tetrahidrocanabinol (THC), o ingrediente ativo do tóxico, antes de 1971, quando foi sintetizado. Assim, só desde essa época é que a pesquisa tem sido de real valor.”

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