terça-feira, 24 de agosto de 2010

Aids — uma crise para os adolescentes

A EPIDEMIA de AIDS não respeita idade, nem diferença de gerações. Notícias de todo o mundo fornecem prova trágica de que “A AIDS Está-se Espalhando Entre os Adolescentes, Uma Nova Tendência Alarmante Para os Especialistas”, segundo proclamado na manchete de um artigo do jornal The New York Times sobre a AIDS. A extensão da infecção pela AIDS entre os adolescentes “será a próxima crise”, disse o Dr. Gary R. Strokash, diretor da área de medicina para adolescentes de um famoso centro médico de Chicago. “É pavoroso e vai ser devastador”, disse ele. “Não resta dúvida”, lamentava o Dr. Charles Wibbelsman, chefe da clínica para adolescentes do Centro Médico Kaiser Permanente, em São Francisco, “de que a epidemia de AIDS, nos anos 90, caso não haja nenhuma vacina, grassará entre . . . os adolescentes”. Falando sobre adolescentes já infectados pela AIDS, a observação feita por um famoso educador de Nova Iorque sobre assuntos de AIDS foi a seguinte: “Achamos que se trata de uma situação crítica de emergência.”

O jornal The Toronto Star, do Canadá, deu em manchete a ameaçadora perspectiva de disseminação da AIDS entre os adolescentes. “No momento, é muito pior do que qualquer pessoa se dá conta”, disse um médico. “Acho que é um problema terrível que nós não podemos realmente controlar. Com o tempo notaremos realmente quão grave é.” A frase simples desse médico torna-se a opinião unânime das autoridades de saúde e dos líderes governamentais em todo o mundo, à medida que o flagelo da AIDS aumenta vertiginosamente.

Até recentemente, os especialistas em AIDS não focalizavam os adolescentes como um grupo de alto risco de infecção pelo HIV (sigla, em inglês, de vírus da imunodeficiência humana), que provoca a AIDS. “Estamos falando de algo que, há apenas um ano, era apenas uma possibilidade teórica”, disse um médico de Nova Iorque. No entanto, “os médicos, que há apenas cerca de um ano não tinham nenhum paciente adolescente infectado, têm agora uma dúzia ou mais”, noticiou o The New York Times.

Os pesquisadores acham que, embora sejam alarmantes as informações disponíveis sobre os adolescentes infectados pela AIDS, isso é apenas uma pequena amostra da ponta dum iceberg, uma vez que os sintomas muitas vezes não surgem, em média, senão depois de sete a dez anos depois da infecção. Assim, os infectados com o HIV no início da adolescência talvez não manifestem sintomas plenos da AIDS senão ao findar a adolescência ou com seus 20 e poucos anos.

Por exemplo, num estudo recente de todos os bebês nascidos no estado, desde 1987, a Secretaria de Saúde do Estado de Nova Iorque verificou que 1 de cada 1.000 bebês nascidos de jovens de 15 anos apresentavam anticorpos do vírus da AIDS, indicando que a mãe daquele bebê estava infectada. De forma alarmante, o mesmo estudo revelava que 1 de cada 100 bebês nascidos de jovens de 19 anos apresentava anticorpos do vírus da AIDS. Um outro estudo, realizado pelos CDC (sigla, em inglês, de Centros de Controle de Moléstias dos EUA), revelava que 20 por cento dos homens americanos e 25 por cento das mulheres americanas diagnosticados como tendo AIDS acham-se nos seus 20 e poucos anos. O estudo dos CDC informa que, na maioria dos casos, a doença foi contraída na adolescência.

Como pode ser isto, porém, se os bebês que nasceram com o vírus da AIDS raramente, se é que alguma vez, chegaram a viver a ponto de se tornarem adolescentes? As razões são estonteantes!

Pesquisadores e médicos prontamente testificam que os adolescentes da atualidade são “extremamente ativos, sexualmente, conforme indicam as taxas de doenças sexualmente transmissíveis entre eles”, noticiou The New York Times. O Centro Para Opções Demográficas (dos EUA) informa que, todo ano, 1 de cada 6 adolescentes contrai uma doença sexualmente transmissível, e que 1 de cada 6 moças sexualmente ativas, que fazem o curso secundário, já teve pelo menos quatro diferentes parceiros.

“Apesar das exortações de ‘simplesmente dizer não’, a adolescente americana mediana perde a virgindade aos 16 anos”, noticiou a revista U.S.News & World Report. “Visto que poucas adolescentes se submetem aos testes, a maioria das infectadas nem sabem que portam o vírus HIV”, dizia a revista. Com ou sem a promiscuidade sexual ligada ao consumo do crack de cocaína, sejam elas jovens que fugiram de casa ou não, “as adolescentes americanas são alvos fáceis para a AIDS”, escreveu um especialista em AIDS. “Entre elas, já chegou a 2,5 milhões o número de casos de doenças sexualmente transmissíveis por ano.” O Dr. Gary Noble, dos CDC, teceu a seguinte observação: “Sabemos que seu comportamento sexual resulta em significativo risco de infecção.”

Contribuindo para o número já crescente de veículos transmissores do vírus da AIDS, há os adolescentes que ganham a vida nas ruas, alguns deles não tendo nem atingido a adolescência, e muitos tendo fugido de casa, devido a pais que submetem os filhos a maus-tratos. Entre eles, tem havido um dramático aumento do número dos que se tornam consumidores do crack de cocaína. Muitos recorrem à prostituição para sustentar seu vício, ou para terem um local onde dormir. Na América do Sul, por exemplo, “jovens de apenas nove e 10 anos não raro trabalham como prostitutas, às vezes por um prato de comida”, disse uma assistente social brasileira, que orienta crianças. “Muitas sabem muito pouco sobre a AIDS ou sobre sexo. Já tive meninas que estavam grávidas e que pensavam que tinham ‘pegado isso’, como se pega um resfriado”, disse ela.

O Dr. Philip Pizzo, especialista em AIDS e chefe da pediatria do Instituto Nacional do Câncer, dos EUA, disse que a taxa de infecção pelo HIV entre jovens que fugiram de casa é um mau presságio para a epidemia de AIDS. “Há mais de um milhão de jovens que fugiram de casa que estão ganhando a vida com o sexo. Sem dúvida, certo número deles será reintegrado na sociedade.”

Será de admirar que a epidemia de AIDS esteja aumentando vertiginosamente entre os adolescentes em todo o mundo? Trata-se de uma trajetória sem paradas? Será, enquanto a indiferença e a complacência continuarem manifestando-se entre os infectados pelo vírus da AIDS e entre aqueles que não conseguem dizer não ao sexo pré-marital. Considere, para exemplificar, o seguinte informe publicado no jornal The Sunday Star, de Johanesburgo, África do Sul. Numa recente pesquisa realizada entre 1.142 pacientes ambulatoriais, portadores de doenças sexualmente transmissíveis, 70 por cento admitiram que tinham tido de 3 a 80 parceiros sexuais por mês. Alguns ainda eram sexualmente ativos e infectavam outros.

Infelizmente, muitos adolescentes não estão muito preocupados em contrair a AIDS. Para eles, cada dia é uma tremenda luta pela sobrevivência — existem tantas maneiras de morrer nas ruas — que eles não conseguem focalizar a atenção em algo que talvez possa vir a matá-los daqui a alguns anos. No ínterim, certamente se achará alguma cura, acham eles, que os salvará. “Os adolescentes são um exemplo básico de um grupo que não olha 10 anos à frente”, disse um especialista em AIDS.

Existe, também, uma concepção errônea e sinistra de que seus parceiros sexuais não estão mentindo quando dizem que não portam o vírus da AIDS. Com muita freqüência, isto não acontece. Mesmo nos estádios avançados da doença, muitas vítimas infectam outros deliberadamente, por raiva ou por vingança.

Não se deve desperceber as pessoas infectadas pelo vírus, através de agulhas contaminadas, usadas para injetar tóxicos — um veículo que já colheu seu tributo. E, por fim, existe a sempre presente ameaça de contrair a AIDS por meio de transfusões de sangue. Muitas vítimas inocentes já morreram desta doença, e outras morrerão ainda devido ao sangue contaminado com o HIV. Muitos médicos e enfermeiras receiam furar-se com agulhas contaminadas pelo vírus da AIDS, o que pode modificar inapelavelmente sua vida. Será de admirar que se diga que a AIDS é a crise dos anos 90 e de mais além?

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